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A investigação sobre o tempo no livro XI das Confissões de Santo Agostinho

Foto do escritor: Beija-Flor EditorialBeija-Flor Editorial



Por Chiara Santi


Em sua obra Confissões, Santo Agostinho faz um relato biográfico, extraindo, a partir disso, a reflexão sobre o encontro pessoal com Deus e os aspectos filosóficos e teológicos que motivaram a sua conversão ao cristianismo. Na parte II do livro, capítulo XI, sob o título “O homem e o Tempo”, Agostinho se interroga sobre a presciência de Deus e reflete sobre qual seria a validade de escrever uma confissão da sua própria vida direcionada para Deus.

Ele já sabe de tudo? Para justificar esse fato, ele diz que é importante se aproximar de Deus de coração aberto para melhor amá-Lo e conhecê-Lo, perseguindo o caminho da salvação que encontra seu fim último na presença divina.


Um dos aspectos filosóficos que mais afligem Santo Agostinho é a busca pela Verdade e a necessidade de se estabelecer um método para encontrá-la. Por isso, ele se questiona a respeito de como é possível perceber a Verdade no relato das sagradas escrituras. Mas é importante ter em mente, de antemão, que Deus é sinônimo do relato mais verdadeiro sobre todas as coisas existentes. Ele parte do relato do momento da criação do mundo e diz que a criação é um desdobramento do próprio Deus criador, que Ele cria tudo a partir da sua palavra divina. Para entender a criação, é preciso entender a presença de Deus no tempo da eternidade em que tudo acontece “simultânea e eternamente”, um tempo fora do tempo que é capaz de originar todas as coisas finitas, a partir de um Deus imortal que habita um lugar onde a mudança não existe.


Agostinho então conclui que a razão de Deus cria e começa tudo, sendo o princípio e a verdade de todo conhecimento. E investigando sobre como os seres humanos podem compreender tudo isso, Agostinho responde que, tendo a sabedoria divina como horizonte, alcançamos o conhecimento sobre a Verdade de Deus porque, enquanto seres humanos, possuímos um reflexo da luz da sabedoria do Verbo divino em nós. Agostinho responderá uma clássica objeção sobre a presença e o poder de Deus como criador, os objetores costumam indagar o que Deus estaria fazendo antes do momento da criação, demostrando que houve uma mudança no comportamento de Deus, negando assim Imutabilidade divina.


A essa objeção, Agostinho diz que o tempo cronológico não pode medir a eternidade, dizendo que o tempo, na perspectiva de Deus, é sempre presente/agora.

Deus existe em um eterno hoje, criando tudo a partir de si. Mas, Agostinho percebe que ainda não tem uma resposta certa para a pergunta sobre “o que é o tempo?”. A definição conceitual do tempo, ele constata, depende de algo que já deixou de ser (o passado) e de algo que ainda não é (o futuro). Para explicar o que significa a transição entre esse espaço do passado e do futuro, Agostinho analisa o tempo dividido em três divisões: presente, passado e futuro. Mas ainda assim esbara na dificuldade sobre como é possível medir ou perceber o tempo como curto ou longo, considerando que o passado já deixou de existir e o futuro ainda não aconteceu. Para solucionar essa questão da medida do tempo, Agostinho percebe que a memória presentifica o tempo passado no presente e o presente deixa vestígios do que pode ser o futuro. Concluindo o tópico dessa análise, ele propõe uma nova terminologia, dizendo que a medida do tempo é uma presentificação do presente, passado e futuro. Dessa forma, existem três tempos enquanto eles são presentificados no tempo presente, mas o passado e o futuro não possuem existência por si.


Encaminhando-se para o final do capítulo, Agostinho percebe que o tempo é uma certa dimensão e, ao dizer isso, ele vai contra as teses costumeiras de sua época que diziam que a passagem do tempo era medida pelo movimento do sol e dos astros. Ele sabe que alguns estudos dizem que os corpos só podem se mover no tempo, mas o tempo está para além do movimento dos corpos em um determinado espaço, o tempo age sobre eles, em vez de ser condicionado pela ação do movimento dos corpos. Com isso, ele faz uma distinção entre um tempo astronômico, metafísico e psicológico.

Agostinho postula um novo conceito para explicar o tempo, chamando-o de distensão, em oposição a costumeira noção espacial de extensão. Para explicar melhor sua nova teoria, ele relata uma experiência, ao descrever a experiência de uma voz reverberando, Agostinho quer exemplificar como é possível medir os tempos, a partir da percepção dele enquanto perdura e permanece na memória, com o exemplo das sílabas breves e longas. Através do espírito (memória), é possível medir os tempos. A memória cristaliza a lembrança dos sentidos percebidos e, depois, com a passagem natural do tempo que já aconteceu, tudo se torna pretérito.

A percepção do passar do tempo aparece relacionada à três fatores: expectação, atenção e memória. O futuro e o passado são longos ou curtos na proporção da expectativa e lembrança depositada sobre eles, ele diz  “cada um das vidas individuais é apenas uma parte”. Sendo assim, se a vida do homem é composta por unidades/partes de sentidos temporais, Agostinho atesta a soberania de Deus, dizendo que a sua vida humana é “distensão”, que pode ser dilatada, expandida e completa somente em Deus.

 

Considerações Finais

 

Deus é o criador de todos os tempos e isso basta para Santo Agostinho como uma verdade e compreensão de que há um limite para o conhecimento humano, esbarrando no mistério divino. Em uma hierarquia, Deus criador conhece de modo diferente das criaturas. O ser humano é finito e mutável para conseguir compreender a eternidade de Deus, é possível entender até certo tempo, mas há um limite. Podendo capturar boa parte desse mistério porque possui, dentro de si, um reflexo do criador em sua alma.

 

Referências Bibliográficas

 

AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. 28. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2018.

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