Por Glaucia Torres
Popularmente conhecida como home office, a tendência de trabalhar em casa evoluiu de uma solução temporária para uma prática amplamente adotada após a pandemia de COVID-19. Atualmente, embora muitos trabalhadores tenham retornado ao modelo presencial, uma parcela significativa continua a atuar na modalidade híbrida, consolidando essa prática como uma tendência permanente no mercado de trabalho. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), cerca de 20,5 milhões de trabalhadores brasileiros estão em ocupações que podem ser realizadas remotamente, e à medida que nos aproximamos de 2025, a demanda por imóveis residenciais com espaços projetados para o trabalho cresce significativamente, refletindo um padrão que influencia diretamente as decisões de compra e locação de imóveis.
Espaços destinados ao home office vão muito além da simples presença de uma mesa e cadeira. A adaptação do lar para a realidade do trabalho remoto exige um equilíbrio entre estética e funcionalidade, com ambientes multifuncionais que combinem conforto, ergonomia e tecnologia. Incorporadoras têm desenvolvido projetos que integram ambientes de home office nos layouts de plantas, considerando aspectos como iluminação natural, isolamento acústico e conectividade. Conforme a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), consumidores de médio e alto padrão têm priorizado imóveis com design inteligente que contemplem ambientes adaptáveis para diferentes usos, com diferenciais que não apenas promovam produtividade, mas também melhorem a qualidade de vida.
Além disso, a personalização tornou-se um dos principais requisitos para os novos projetos. Em 2024, uma pesquisa da ABRAINC revelou que a localização e a flexibilidade dos ambientes são fatores decisivos para muitos compradores. Para 2025, espera-se que os projetos ofereçam opções para os proprietários adaptarem os espaços conforme suas necessidades e preferências, com infraestrutura tecnológica avançada, como tomadas estrategicamente posicionadas, cabeamento de alta velocidade para internet e sistemas de iluminação inteligentes.
A importância de ambientes preparados para o home office também se reflete na valorização do imóvel. Dados da ABRAINC indicam que imóveis com espaços dedicados ao trabalho remoto têm maior aceitação no mercado e podem atingir valores superiores de venda e locação, uma vez que atendem a um público crescente que busca qualidade de vida aliada à produtividade. Essa tendência influencia reformas e modernizações, já que muitos proprietários adaptam seus imóveis para as novas exigências dos compradores e locatários.
Um relatório do IPEA também aponta que a flexibilidade de espaços no lar será um dos principais pilares de novos projetos habitacionais no Brasil até o final da década. Com essa mudança de paradigma, os escritórios residenciais terão tanta importância em uma residência quanto os quartos ou a cozinha, tornando-se um critério decisivo na escolha de um imóvel. Projetos que incluem salas de reunião privativas, áreas de leitura ou bibliotecas integradas e até mesmo entradas independentes para os ambientes de trabalho se tornarão cada vez mais desejados e executados pela construção civil.
Além das preferências dos novos compradores, a questão regulatória também desempenha um papel importante. Algumas cidades, como São Paulo, já discutem alterações no código de obras para permitir mudanças estruturais em apartamentos que visem a criação de escritórios residenciais, enquanto outras avaliam incentivos fiscais para imóveis que atendam às demandas de home office. Essas mudanças podem acelerar a transformação do mercado e beneficiar tanto incorporadoras quanto moradores.
Tal evolução aponta para um futuro onde a residência, além de ser um lugar de descanso e lazer, também seja um ambiente otimizado para a produtividade, refletindo a integração das esferas profissional e pessoal. À medida que as fronteiras das atividades cotidianas se tornam mais fluidas, a demanda por imóveis que ofereçam espaços de trabalho planejados continuará a crescer, influenciando a maneira como os imóveis são projetados, comercializados e ocupados. Para atender a essa demanda, incorporadoras, arquitetos e corretores precisarão adaptar suas estratégias, oferecendo soluções que combinem funcionalidade e conforto a fim de criar um espaço de trabalho ideal no ambiente doméstico.