Por Paloma Sama
É muito interessante quando temos visões diferentes de um acontecimento histórico, seja em livros de ficção ou filmes. Com jogos não é muito diferente. Com uma pitada de realidade: A Guerra dos Cem anos (1337 a 1453 – Inglaterra e França) e A Peste Bubônica (1347 a 1353), misturada à ficção, nós temos essa belíssima obra:
A Plague Tale: Innocence
(Lançado em 2019 pela Asobo Studio) – Jogo de ação/aventura em terceira pessoa
A França se encontra devastada pela guerra e a peste bubônica, mas Amicia (15 anos) e Hugo (6 anos), dois irmãos, vivem relativamente tranquilos longe dos conflitos até terem suas vidas mudadas após sua propriedade ser invadida pela Inquisição, uma força militar brutal que persegue supostos hereges. E por isso Amicia e Hugo — que sofre de uma doença misteriosa, revelada posteriormente ser um poder bizarro que atrai ratos enormes e carniceiros, que causa grandes desastres e mortes (representação da peste) — são separados dos pais e forçados a fugir.
Do lado de fora, é possível avistar um mundo em ruínas, com vilarejos, campos e cidades em estado de decadência. A sensação de abandono é palpável.
Os dois irmãos agora estão em busca de uma cura e da verdade por trás do bizarro poder. No caminho enfrentam hordas de ratos, soldados da Inquisição e outros perigos. Hugo então descobre que sua doença está ligada a um antigo e poderoso artefato conhecido como "O Macula", que consegue controlar os ratos e que está sendo estudado pela Inquisição. A conexão do garoto com o Macula também está ligada a um misterioso culto conhecido como "Os Alquimistas", que buscam usar esse poder para seus próprios fins.
O jogo explora temas profundos como a sobrevivência, a lealdade familiar e o impacto da guerra e da peste sobre a vida humana, não apenas retratando o sofrimento físico, mas também o impacto psicológico e social da pandemia.
A dupla, enfrentando a dura realidade de sua situação, incluindo traições e a constante ameaça da Inquisição, a qual tem suas intenções reveladas e a explanação da profundidade do poder de Hugo, tem sua jornada encerrada com uma resolução emocional para os irmãos enquanto eles tentam encontrar um futuro incerto em meio ao caos que os rodeia.
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Está ficando cada vez mais difícil resumir histórias tão boas dada a complexidade de seu enredo, seria impossível dizer todos os detalhes com precisão sem escrever um gigantesco texto, mas espero que tenha conseguido sentir a essência dele até aqui.
A Plague Tale: Innocence é aclamado por sua narrativa envolvente mostrando o amor fraternal, a sobrevivência e a luta contra as adversidades enquanto mergulha em um cenário sombrio e medieval aterrorizado por ratos (cruzes).
A relação entre Amicia e Hugo é um dos pilares da trama, dando um bom destaque para a força dos laços familiares em tempos de guerra. Eles são bem desenvolvidos e a evolução de cada um, em suas lutas pessoais, ajudam a criar uma conexão com quem segura o controle. O que particularmente eu adoro. Um bom drama somado a um excelente enredo, não tem como dar errado. O jogo não tem medo de explorar temas pesados e a experiência pode ser intensa. A história frequentemente provoca sentimentos fortes, desde empatia até angústia.
Esses elementos combinados o transformam em um game marcante e memorável, oferecendo uma experiência rica em termos de narrativa e em outros aspectos também. Fica aqui a dica dessa obra-prima.
Curiosidade: Indicado ao The Game Award para Melhor Narrativa, BAFTA Video Games Award: Realização Técnica.
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