Por Paloma Sama
A produtora de games Telltale tem o costume de lançar jogos no estilo que eu gosto: com escolhas. A grande diferença dela para outras empresas é que alguns dos jogos são vendidos em episódios, como uma série, e precisamos esperar serem lançados, um a um, sabe-se lá por quanto tempo, para completarmos a jogatina. Sempre são cinco episódios.
Quando eu conheci The Walking Dead, já estava completinho (ufa, pois haja paciência para esperar), e joguei o primeiro episódio disponível de forma gratuita, achei muito interessante, diferente e intrigante, nunca tinha visto nada parecido, mas não terminei. A curiosidade ficou instalada em mim por muitos anos até finalmente ter a oportunidade de jogar até o seu final e sinceramente, foi uma ótima experiência, tanto, que zerei infinitas vezes.
The Walking Dead (1ª Temporada)
(Lançado em 2012 pela Telltale – Jogo de aventura em terceira pessoa)
A história se passa no mesmo universo que os quadrinhos de igual nome, porém com personagens novos, próprios do jogo, onde passam por vários perrengues. Os eventos ocorrem logo após o início do apocalipse zumbi, onde seus personagens tentam sobreviver ao surto e lidar com a nova realidade.
Inicialmente, somos apresentados a Lee Everett, um professor de história condenado por homicídio. Ele está sendo transportado em uma viatura policial quando o apocalipse irrompe, o que, graças a isso, faz ele sofrer um acidente de trânsito.
Após escapar da viatura que capota barranco abaixo, ele encontra uma menininha chamada Clementine, que está sozinha após seus pais a deixarem com uma babá que já não existe. Sem muitas opções, Lee se torna seu protetor (até porque, quem abandonaria uma criança tão fofinha e indefesa em meio ao caos?).
Em pouco tempo, juntam-se a um estranho grupo que inclui um homem chamado Kenny, um pescador com quem Lee desenvolve uma forte amizade e que nos faz dividir opiniões sobre as escolhas que fizemos. Ao longo da jornada, o grupo enfrenta não apenas zumbis (obviamente), mas também outros sobreviventes que podem ser igualmente perigosos (como ladrões que não têm piedade, por exemplo). As nossas decisões afetam diretamente as relações entre os personagens e podem resultar em situações drásticas (vulgo: morte – e uma vez morto, o personagem não retorna). Também somos colocados em dilemas onde temos de escolher entre salvar um ou outro, e o que não é salvo, já sabe, né?
Além de terem a desconfiança uns dos outros como inimiga, os desafios a enfrentar são grandes, portanto precisam se unir se quiserem sobreviver. Lee tenta manter a harmonia do grupo, mas nem sempre consegue, pois cada um tem sua própria personalidade (forte), tal qual uma pessoa real.
Cada episódio nos leva a locais e perigos diferentes, ao passo que a relação de Lee e Clementine evolui (ele tenta ensiná-la a sobreviver em um mundo hostil, enquanto ela se torna uma presença de esperança e resistência; afinal, é uma criança no fim do mundo). O homem dá até o que ele não tem pela segurança da garota. É muito bonito e triste ver o que o horror e a dor podem fazer pelas pessoas (deixando-as melhores ou piores), e é por conta dessa forte doação que o jogo possui um fim difícil, onde Clementine deve enfrentar a dura realidade da sobrevivência sendo ainda tão jovem.
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O encerramento da primeira temporada (porque existem mais três jogos) é emocionalmente intenso e seu final é igualmente impactante. A experiência é única e combinada com uma narrativa intensa, permite ao jogador explorar a condição humana em meio ao caos (o que eu aprecio demais em qualquer coisa que consumo). A história de Lee e, posteriormente, de Clementine, é um relato emocionante de amor, perda e sobrevivência, que deixou uma marca em mim. Considerei um dos melhores jogos de escolhas que tive o prazer de conhecer (por esse motivo zerei tantas vezes sem sequer enjoar).
Apesar de já haver livros a respeito, os quais deixarei em “curiosidade”, nenhum se compara ao enredo dessa obra de arte.
Sobrevivência, moralidade, a importância da família e das relações humanas em tempos de crise, são temas palpáveis. Cada ação e escolha nos faz refletir sobre o que poderia ter sido feito de melhor ou diferente quando vemos as consequências das decisões.
Foi difícil resumir seu enredo aqui para vocês por dois motivos: serem em episódios e cada um contar um pedaço. Se eu fosse discorrer detalhadamente, seriam longas linhas de texto; o segundo motivo é: spoiler. Qualquer coisa a mais que eu disser, pode estragar a forma como você recebe a história ao jogar, afinal, apesar de a proposta aqui ser sobre jogos que poderiam virar livros, ter a experiência visual de jogar e sentir, são impagáveis e deixo aqui a minha recomendação fortíssima para conhecer, você não vai se arrepender.
Só de escrever esse texto me deu vontade de jogar novamente (kkk), bem, gente, é isso.
Curiosidades: O game recebeu diversos prêmios e reconhecimentos, incluindo mais de 90 prêmios "Jogo do Ano" em várias cerimônias, como os Spike Video Game Awards, BAFTA Games Awards e DICE Awards. O jogo foi amplamente elogiado por sua narrativa, desenvolvimento de personagens e impacto, solidificando seu lugar como um marco na indústria de jogos. Essa quantidade de prêmios reflete sua recepção crítica e popular.
* O personagem Gleydson Hershel Greene, ou apenas Hershel, aparece no game, porém com uma história diferente da HQ. Gleen também faz uma rápida aparição.
* Assim como as Hq’s e a própria série, The Walking também possui uma série de livros que contam lados diferentes do surto. Escritos por Robert Kirkman e Jay Bonansinga, são eles: A Ascensão do Governador (1), O Caminho para Woodbury (2), A Queda do Governador – Parte 1 (3), A Queda do Governador – Parte 2 (4), Declínio (5), Invasão (6), Busca e Destruição (7) e Retorno para Woodbury (8).