
Por Glaucia Torres
Em 2024, o mercado imobiliário demonstrou uma notável capacidade de adaptação frente a um ambiente econômico extremamente desafiador, marcado por altas taxas de juros e um cenário macroeconômico incerto.
Com a taxa Selic elevada a 12,25% ao ano, o custo do crédito imobiliário tornou-se um empecilho para muitos compradores, afetando diretamente a demanda por financiamentos. Apesar disso, o setor da construção civil alcançou um crescimento de 4,1%, apoiado em investimentos significativos em habitação social e na crescente procura por projetos que incorporam soluções sustentáveis, como apurado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Esse crescimento foi mais evidente em regiões metropolitanas como São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba, que lideraram lançamentos residenciais e comerciais, além de avanços na utilização de materiais sustentáveis, como o concreto ecológico e sistemas de eficiência energética. A integração desses elementos atraiu investidores alinhados às diretrizes ESG (Ambiental, Social e Governança), consolidando uma tendência global de valorização de práticas ecologicamente corretas no setor imobiliário.
Em paralelo, as empresas do setor encontraram soluções criativas para mitigar os efeitos do alto custo do crédito. Parcerias com instituições financeiras permitiram o lançamento de linhas de financiamento com taxas de juros reduzidas, enquanto estratégias comerciais como descontos agressivos e cashback atraíram novos compradores. Essas iniciativas foram especialmente eficazes nos segmentos de médio e alto padrão, que permanecem resilientes devido à constante demanda por imóveis bem localizados e de alta qualidade.
Outro aspecto que marcou 2024 foi o avanço do mercado de multipropriedade, também conhecido como time-sharing, que cresceu substancialmente em regiões turísticas. Esse modelo, que permite a aquisição e o uso compartilhados de imóveis, atraiu tanto consumidores finais quanto investidores em busca de boas oportunidades. Segundo dados da ADIT Brasil, o setor movimentou 32 bilhões de reais e projeta um crescimento de 15% em 2025, demonstrando sua relevância como estratégia de ampliação do mercado.
A valorização constante dos imóveis também merece destaque, com um aumento médio de 7,22% nos preços em 2024, conforme o Índice FipeZAP, que monitora os preços de imóveis em diversas cidades brasileiras. Esse movimento foi impulsionado pela retomada da atividade econômica e por uma crescente demanda no setor comercial, especialmente em regiões metropolitanas, que se beneficiaram com o retorno do trabalho híbrido. Empresas buscaram escritórios mais modernos e sustentáveis, reforçando a tendência de valorização de espaços corporativos adaptados às novas realidades de trabalho.
O papel da tecnologia no mercado imobiliário foi outro ponto de transformação em 2024. O blockchain, tecnologia que registra transações de forma descentralizada e imutável, foi implementado em algumas negociações imobiliárias, garantindo maior segurança, transparência e agilidade ao reduzir burocracias e prevenir fraudes. Já o uso de big data, que envolve o processamento e análise de grandes volumes de dados, permitiu uma compreensão mais precisa das tendências do mercado, ajudando incorporadoras e imobiliárias a identificarem demandas regionais, perfis de consumidores e locais estratégicos para novos empreendimentos.
Para 2025 as perspectivas são otimistas, embora condicionadas a alguns fatores macroeconômicos e políticos. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) e o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) projetaram um crescimento de 3% na construção civil, sustentado por investimentos robustos em infraestrutura, como projetos de transporte e saneamento, que devem atrair capital privado. No entanto, mudanças esperadas na legislação tributária poderão afetar, em algum ponto, a dinâmica do mercado, exigindo maior agilidade de investidores e incorporadoras para se adaptarem.
A busca por imóveis sustentáveis e multifuncionais também tende a se intensificar em 2025. Projetos com certificações como LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), que reconhece construções sustentáveis, agregam valor aos imóveis, representando uma tendência clara de mercado. Ao mesmo tempo, plantas que integrem moradia, trabalho e lazer, com espaços compartilhados e áreas de convivência, continuarão em evidência, refletindo um estilo de vida moderno e conectado.
Sem dúvidas, 2024 foi um ano de adaptação e inovação para o mercado imobiliário, marcado pela resiliência de empresas que souberam enfrentar os desafios econômicos com criatividade e agilidade. Investimentos em tecnologias disruptivas, estratégias financeiras inteligentes e práticas sustentáveis foram essenciais para manter o setor competitivo e relevante. Para 2025, o cenário é de grandes oportunidades, mas também de desafios que exigirão visão estratégica e flexibilidade. A consolidação de avanços tecnológicos, a adaptação às preferências de um consumidor cada vez mais consciente, e a busca por sustentabilidade devem nortear as ações das empresas, enquanto a estabilidade econômica será determinante para um ritmo de crescimento dinâmico, ditando os rumos desse setor, que é essencial para o desenvolvimento socioeconômico do país.